A mudança acelerada e contínua torna o nosso mundo cada vez mais complexo. Na mesma velocidade, novas competências são exigidas pelo mercado, para atender às profissões, que surgem  todos os dias. Quantas vezes ouvimos sobre a necessidade de nos adaptarmos, de  corrermos contra o tempo para acompanhar tais mudanças,  sob pena de perdemos o nosso espaço no mercado de trabalho?

E o medo de perder  espaço e importância tem-se ampliado à medida que a chamada Inteligência Artificial promete saber lidar com muito mais informação que qualquer ser humano. É assustador falar sobre um mundo imprevisível,  mutante e exigente, que parece algo diferente de nós, algo do qual não fazemos parte, que nos pressiona e ameaça. Mas será que é mesmo assim?

O processo de aprendizagem

Enrique Pinchòn-Riviere (1970 – 1977) descreveu o processo de aprendizagem como o movimento de uma espiral cônica invertida, simbolizando a ascensão  por meio de avanços e recuos, que fazem parte do ‘aprender’.

Um arco da espiral avança, representando o movimento de busca das informações e experiências que o meio proporciona, e depois se volta  quase fechando um círculo, representando o que trazemos para dentro de nós.  Elaborando esse conteúdo nos transformamos,  aprendemos. Mas o círculo não se fecha,  a espiral  avança novamente: é quando levamos  ao mundo ao nosso saber,  todo o conhecimento e experiências elaboradas,  que então, são postos a serviço do meio.  E assim transformamos o mundo.

Pichón-Rivière, provavelmente,  não suspeitava que anos mais tarde a IA seria criada a partir do mesmo princípio de retroalimentação, isto é, que uma máquina poderia ‘aprender’  a partir das informações que o ambiente lhe oferece e devolver informações cada vez mais elaboradas.

Contudo, a aprendizagem humana, à qual ele se referiu, não é  apenas lógica, mas envolve uma série de percepções,  sensações, sentimentos, interesses, valores intercambiados de forma não linear. São avanços e recuos, mudanças internas promovendo mudanças externas e vice e versa, em uma dinâmica de mútua transformação,  que integra o indivíduo ao mundo.  Cada um de nós contribui a partir dessa dialética, que faz evoluir  a nós e as outras pessoas, isto é, a sociedade e o seu saber.

Isto significa que o que nós sabemos, as nossas competências estão em constante evolução. Não estão ligadas apenas ao nosso fazer, ao trabalho, mas formam um reportório que pode ser modificado, ampliado, ressignificado e transferido para outras situações, se nos mantemos em constante processo de aprendizagem. Podemos nos apropriar do conhecimento e transformá-lo, sempre.

Tecnologia assusta?

Não deveria. A evolução tecnológica não é algo alheio a nós,  é fruto dessa capacidade humana de fazer evoluir o conhecimento e os recursos disponíveis do meio, movimento que, idealmente, deveria reverter em benefício de todos.

Sendo assim,  não deveria ser assustadora, mas estimulante,  porque aprender sempre foi a nossa melhor competência, enquanto humanos. É um movimento que fazemos, naturalmente, desde que nascemos, se tivermos condições socioeconômicas e culturais que favoreçam esse intercâmbio.  É disso que precisamos ter consciência e zelar.